1998-12-12

Maravilhas da tecnologia

João chegou eram 9:30. O fim de semana já tinha passado e apresentava-se uma nova semana pela frente. Ligou o computador e enquanto ele arrancava foi tomar o seu café. Junto à máquina do café encontrou os seus colegas. O tema de conversa a uma segunda feira de manhã, claro, futebol. Esteve por ali até cerca das 10:00. Regressou ao gabinete e acedeu à Internet para ler os jornais com edição electrónica. Às 11:00 a sua agenda electrónica lembrou-lhe que tinha uma reunião virtual com dois colegas. Carregou o software adequado para a reunião, ligou a sua mini-câmara, e lá lhe apareceram duas janelas cada uma com o rosto dos seus colegas. Um encontrava-se no Brasil, outro em França. Como havia tempo que não se encontravam, estiveram cerca de meia hora a pôr a escrita em dia e depois passaram a assuntos sérios. Mas ao meio dia, a reunião teve que acabar. Outros compromissos.
João acedeu então à sua caixa postal de correio electrónico. Dezenas de mensagens haviam chegado desde Sexta feira. A maioria era de grupos de discussão de que ele fazia parte. Escolheu primeiro as mensagens relacionadas com o futebol. Essas tinham que ser lidas logo enquanto ainda estavam frescas. Havia mensagens para todo o gosto. João respondeu primeiro aquelas que falavam do seu clube dando opiniões sobre o treinador, os jogadores e o árbitro, claro. depois respondeu a algumas sobre os clubes adversários, deitando-os abaixo. Aquilo tinha mesmo piada pois a coberto dum nome fictício podia dizer o que lhe apetecia. Em seguida respondeu a uma meia dúzia de mensagens relacionadas com o seu trabalho. Deixou para o fim as que os amigos lhe mandaram com anedotas e outras coisas engraçadas. Já não teria tempo de as ler antes do almoço. Pelo meio ainda trocou opiniões por escrito com colegas através do programa de conversação.
Infelizmente, pensou João, ainda não implementaram na Empresa um sistema para encomendar o almoço via computador. Lá teria que ir à Cantina.
Depois do almoço ocupou parte da tarde a ler e a rir-se com as piadas que tinha recebido dos amigos e a enviá-las para outras pessoas. Estava na hora do café da tarde. Esse prazer ninguém lho tirava, e aí João não desejava que houvesse nenhum avanço tecnológico. Há coisas que são sagradas. Encontrou-se novamente com os colegas e ficaram no paleio. Quando regressou ao gabinete, já só tinha tempo para ver na Internet as cotações da bolsa. Em função desta informação, João geria as suas acções. Já tinha ganho bastante dinheiro com este processo. Bastava-lhe enviar ordens de compra e venda via correio electrónico aos seu corrector.
Bem estava na hora de ir embora. João pensou no que seria o seu dia de trabalho sem estes avanços de tecnologia. Nunca poderia fazer tantas coisas em tão pouco tempo. Coitados dos colegas que estavam em empresas que não haviam aderido às novas tecnologias. Como poderiam sobreviver essas empresas? Bendita tecnologia que lhe garantia o seu posto de trabalho.


(este também foi para o jornal do meu irmão)